
Ana Luiza de Figueiredo Souza
Narrativas pessoais on-line: conceito empírico
Como pesquisadora na área de Comunicação, procuro me atentar a dinâmicas comunicacionais que envolvem aquilo que investigo. Apesar de frequentemente mobilizadas, as narrativas pessoais on-line ainda carecem de precisão conceitual dentro da Comunicação. O que é ótimo para oferecer contribuições à área. Apresento a seguir um resumo do que entendo por narrativas pessoais sobre a maternidade, conceito que pode ser aplicado ao estudo de demais narrativas on-line.
Em minha pesquisa, eu as conceituo como discursos e relatos construídos a partir da junção entre a vivência (no caso, materna) narrada pelo/a autor/a e os recursos disponibilizados pelas plataformas em que tais narrativas são feitas: escrita de textos, adição de fotos, videotransmissões, gravação de áudio, entre outros.
Uma vez que se admite que as narrativas pessoais buscam modificar algo, parte-se para a investigação dos efeitos que intencionam, e de que maneira tentam concretizá-los. Diante das discussões acerca da maternidade realizadas em mídias sociais, argumento que são afetivas e efetivas. Do mesmo modo que são afetadas — no sentido de se comoverem por determinada(s) questão(ões) relativa(s) à maternidade e/ou pelas demais narrativas com que têm contato —, as autoras também buscam causar (e, muitas vezes, causam) algum efeito no mundo concreto a partir de suas narrativas sobre a maternidade.
Atenta-se, ainda, para a dinâmica própria de argumentação que as narrativas pessoais sobre a maternidade desenvolvem nas mídias sociais. O teor afetado e que procura ser efetivo se reflete nas polarizações, agressividade e em certo dualismo (ou isto ou aquilo) que costuma sustentar os posicionamentos defendidos por quem as posta, conforme mostra a análise empírica.
No que se refere às mídias sociais em si, é importante pontuar problemáticas como ações planejadas de desinformação e os modos opacos, muitas vezes ocultos, pelos quais funcionam os algoritmos que as organizam — aspectos que acabam impactando tanto a produção quanto a disseminação das narrativas pessoais nelas produzidas.
---- Gostou desse artigo? Acompanhe o Nota de rodapé para publicações semelhantes. Confira aqui o post sobre narrativas pessoais on-line em formato compacto. O conceito de narrativas pessoais on-line e algumas discussões que as envolvem estão contidos no livro “Ser mãe é f*d@!”: mulheres, (não) maternidade e mídias sociais.