Como pesquisadora na área de Comunicação, procuro me atentar a dinâmicas comunicacionais que envolvem aquilo que investigo. Apesar de frequentemente mobilizadas, as narrativas pessoais on-line ainda carecem de precisão conceitual dentro da Comunicação. O que é ótimo para oferecer contribuições à área. Apresento a seguir um resumo do que entendo por narrativas pessoais (no caso, sobre a maternidade), conceito que pode ser aplicado ao estudo de demais narrativas on-line.
Em minha pesquisa, eu as conceituo como discursos e relatos construídos a partir da junção entre a vivência (no caso, materna) narrada pelo/a autor/a e os recursos disponibilizados pelas plataformas em que tais narrativas são feitas: escrita de textos, adição de fotos, videotransmissões, gravação de áudio, entre outros. Na pesquisa de mestrado (estendida em publicações posteriores), a respeito de narrativas pessoais sobre a maternidade nas mídias sociais, a produção textual (inclusive no que denomino textões-desabafo) se destaca enquanto ferramenta mais utilizada para debater temáticas maternas, sendo feminina a maior parte do público envolvido em tais discussões. Em vista desse cenário, a pesquisa opta por trabalhar com narrativas pessoais sobre a maternidade escritas por mulheres.
Porém, nada impede que demais pesquisadores utilizem o conceito que estabeleço para as narrativas pessoais on-line para investigarem outros tipos de manifestações (vídeos ou imagens estáticas, por exemplo) nessas mesmas mídias sociais. O princípio se manteria: são compostas pela junção entre a vivência narrada por quem as constrói e os recursos da(s) plataforma(s) em que tais narrativas são construídas. O conceito que proponho, portanto, não se restringe a um formato ou linguagem específicos, nem únicos. É adaptável ao que o fenômeno investigado apresenta.
Uma vez que se admite que as narrativas pessoais buscam modificar algo, parte-se para a investigação dos efeitos que intencionam, e de que maneira tentam concretizá-los. Diante das discussões acerca da maternidade realizadas em mídias sociais, argumento que são afetivas e efetivas. Do mesmo modo que são afetadas — no sentido de se comoverem por determinada(s) questão(ões) relativa(s) à maternidade e/ou pelas demais narrativas com que têm contato —, as autoras também buscam causar (e, muitas vezes, causam) algum efeito no mundo concreto a partir de suas narrativas sobre a maternidade. Noção esta que, mais uma vez, pode ser aplicada a demais trabalhos quando pertinente.
Atenta-se, ainda, para a dinâmica própria de argumentação que as narrativas pessoais sobre a maternidade desenvolvem nas mídias sociais. O teor afetado e que procura ser efetivo se reflete nas polarizações, agressividade e em certo dualismo (ou isto ou aquilo) que costuma sustentar os posicionamentos defendidos por quem as posta, conforme mostra a análise empírica.
No que se refere às mídias sociais em si, é importante pontuar problemáticas como ações planejadas de desinformação e os modos opacos, muitas vezes ocultos, pelos quais funcionam os algoritmos que as organizam — aspectos que acabam impactando tanto a produção quanto a disseminação das narrativas pessoais nelas produzidas.
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O conceito de narrativas pessoais on-line e algumas discussões que as envolvem estão contidos no livro “Ser mãe é f*d@!”: mulheres, (não) maternidade e mídias sociais.
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