Junho marca o mês dedicado à conscientização sobre a infertilidade, e gostaria de deixar algumas questões para perdurarem além do calendário temático. Afinal, a não maternidade envolve vivências complexas, que merecem ser trazidas ao debate público.
Principalmente diante de um cenário um tanto delicado no que se refere à queda da fertilidade de mulheres e homens (sim, eles também) ao redor do mundo. Confira a seguir alguns desses questionamentos.
A não maternidade nem sempre é uma escolha.
Há mulheres que querem muito ser mães, mas, por uma série de motivos, acabam sem realizar esse desejo. No caso das que vislumbram a maternidade biológica, dificuldade para engravidar ou problemas relacionados à saúde reprodutiva são algumas causas para isso. Situação que se torna mais comum conforme mulheres passam a planejar e tentar ter filhos em idade avançada.
Nem todas as mulheres que não conseguem ser mães biológicas vão recorrer à adoção.
Paira a ideia de que, se uma mulher não consegue ter filhos biológicos, ela ainda pode virar mãe por meio da adoção. Mas não é bem assim que acontece. Adoção não é um plano reserva caso o plano principal não funcione. Uma mulher disposta a gestar e parir os próprios filhos ou a ter filhos biológicos por meio de útero solidário não necessariamente está disposta a adotar. Assim como nem toda adotante já foi tentante.
Diferentes mulheres, recursos distintos.
Recortes sociais (classe, raça, orientação sexual, idade, se tem alguma deficiência) e demais variáveis (rede de apoio, saúde, convicções pessoais e políticas, se conta ou não com um/a companheiro/a) vão fornecer mais ou menos recursos para que as mulheres em busca da maternidade biológica possam tanto alcançar esse objetivo quanto lidar com a frustração por não terem conseguido filhos.
Cada jornada é única, com ou sem filhos nela.
Existem mulheres que sofrem por terem problemas relacionados à fertilidade, enquanto outras afirmam que a infertilidade seria uma bênção para elas, pois não querem ter filhos biológicos de jeito nenhum. Há mulheres que se empenham na busca pela gravidez; que conduzem esse processo com mais leveza; que lidam com perdas gestacionais; que têm bebês; que mudam de ideia sobre quererem filhos biológicos ou mesmo sobre virarem mães. Cada história é única e precisa ser entendida como tal.
Não conseguir ter filhos não significa ser infeliz.
Mesmo quando a vida sem filhos não é resultado de uma escolha, precisamos superar a ideia de que a maternidade conduz a mulher à (maior) felicidade. Esse pensamento, inclusive, é motivo de dor entre mulheres involuntariamente sem filhos que consideram que "falharam" ou que "nada que façam é suficiente" por não terem virado mães. Há inúmeras mulheres sem filhos que constroem vidas significativas, potentes e felizes. Aprendem a transformar falta em mera ausência. E, para várias delas, filhos nunca fizeram falta mesmo.
Que o conhecimento embasado possa construir conexões mais acolhedoras.
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Confira aqui o post sobre reflexões acerca de questões relacionadas à não maternidade e à fertilidade.
Essa e outras temáticas são melhor exploradas no livro “Ser mãe é f*d@!”: mulheres, (não) maternidade e mídias sociais e na tese de doutorado.
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