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  • Foto do escritorAna Luiza de Figueiredo Souza

Maternidade não se restringe a maternidade biológica

Atualizado: 31 de mai. de 2022

Modelos maternos hegemônicos são aqueles pelos quais nos orientamos ao pensar na relação entre mãe e filho, nos tipos de mãe que podem existir e nos tipos de filho que elas podem ter.


Tais modelos colocam a mãe biológica ou seja, aquela que compartilha seu código genético com o filho como a mãe autêntica, legítima, a mãe "de verdade".


Tanto que mães que gestaram e pariram suas crianças, mas não têm vínculo maternal com elas não fazem parte de seu cotidiano nem de sua maternagem —, costumam ser socialmente reconhecidas enquanto mães dessas crianças. Por mais que quem as crie, eduque e ame seja(m) outra(s) pessoa(s) que dificilmente ganha(m) reconhecimento por desempenhar(em) esse papel social.


Essa ideia está tão encrustada no nosso imaginário coletivo que aparece até em dizeres como: "Nasce um filho, nasce uma mãe". Muito repetida nas discussões online sobre a maternidade, tal frase parte do princípio de que a criança já nasce na condição de filho. E nasce a partir da mãe, que se constitui quase ao mesmo tempo que ele.


Contudo, em famílias formadas, por exemplo, a partir da adoção, o filho, em geral, já é nascido. Só depois encontra aquela que vai se transformar em sua mãe. “Não veio de mim, mas nasceu para mim” é expressão comum entre mães adotivas ou do coração. Embora, claro, não possa ser generalizada para a vivência materna de todas elas.


Não à toa tantas mulheres passam anos, às vezes décadas, tentando engravidar ou ter filhos biológicos. Muitas sequer cogitam a adoção como meio de realizar o sonho de virar mãe, por mais que sofram por não conseguirem sucesso em suas tentativas.


Isso acontece porque outras maternidades que não sejam a biológica são vistas como menos completas, menos legítimas, aquilo que se empreende quando nada mais deu certo para gerar filhos biológicos. Vêm daí expressões como “útero murcho” ou “fruta seca”. O que exclui tanto mães adotivas ou do coração quanto filhos adotivos ou do coração dos referenciais e do planejamento familiar de boa parte das pessoas.


Há quem não reconheça filhos adotivos ou do coração (aqui incluídos enteados/as) enquanto filhos de uma mulher. O que resulta em comentários insensíveis e preconceituosos, como:


“Quando vem o filho de verdade?”.

Ele já existe, está ali, faz parte da vida da mãe.


“Tadinha, não deve ter conseguido ter filhos”.

A mãe já conseguiu ter filho(s), só não o(s) teve de forma biológica.


“Eu sei que é você quem cria o/a menino/a, mas não é isso que te faz mãe dele/dela”.

Se ambos/as se reconhecem como mãe e filho/a, então são mãe e filho/a.


Quando a maternidade biológica é assumida como a maternidade “verdadeira”, isso exclui dos parâmetros maternos outros tipos de maternidade, nos quais a mãe não necessariamente compartilha seu código genético com o/a(s) filho/a(s). O que gera sofrimento tanto para tentantes que não conseguem engravidar ou conceber quanto para mães e filhos que não se encaixam nesse modelo dominante.


Quase não se fala em maternidades diferentes do modelo em que o filho carrega a herança genética da mãe. Por isso apesar de ter havido avanços inclusive no que se refere à parentalidade socioafetiva na área do Direito de Família existe tanta desinformação e intolerância com modelos maternos que fujam desse molde.


Precisamos normalizar a ideia de que ser mãe vai além do DNA.


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Gostou desse artigo? Acompanhe o Nota de rodapé para publicações semelhantes.


Confira aqui o post sobre como a ideia de que a maternidade biológica seria a mais legítima marginaliza outros modelos maternos em formato compacto.


Essa e outras temáticas são melhor exploradas no livro Ser mãe é f*d@!”: mulheres, (não) maternidade e mídias sociais.



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