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  • Foto do escritorAna Luiza de Figueiredo Souza

No Brasil e em boa parte do mundo, o trabalho de cuidado tem gênero

Atualizado: 5 de nov. de 2023

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 é "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil".


No Brasil e em boa parte do mundo, o trabalho de cuidado tem gênero. Meninas, adolescentes, adultas e idosas encarregadas de, silenciosamente, manter as engrenagens do tecido socioeconômico funcionando. Fazem isso ao desempenharem as tarefas domésticas, afetivas e de maternagem que criam as bases necessárias para que estudantes, trabalhadores e aposentados possam se ocupar de seus estudos, jornadas de trabalho, obrigações, lazeres.


A escolha do tema da redação do Enem certamente resulta do aumento de discussões sobre o trabalho de cuidado. É importante tirá-lo da invisibilidade. É importante dividi-lo com os homens.


O Enem acerta ao não restringir esse trabalho a um grupo específico de mulheres. Conforme tenho elaborado em anos recentes, a cobrança por cuidados gratuitos se estende a todas elas, desde muito cedo, passando por recortes de classe, raça e papéis sociais.


Na roda de amigos, no almoço de família, no ambiente de trabalho. É delas que se espera o olhar atento, a lavagem da louça suja, a organização meticulosa da rotina para acomodar as necessidades de todos nela implicados.


A quantidade de jovens que passam a afirmar "Não quero cuidar de ninguém além de mim mesma" reflete um cenário massacrante para o gênero feminino. Uma resposta dura a uma realidade mais dura ainda. São aquelas que se recusam a cumprir com a expectativa social de cuidarem dos outros.


O problema é que a vida social necessita de pessoas que cuidem. Quando mulheres não se ocupam desses cuidados, quase sempre eles são preenchidos por outras mulheres. Então é preciso que nós, coletivamente, passemos a delegar o trabalho de cuidado também aos homens, para que ele se torne sustentável para todos.


Se a sociedade (inclusive as jovens acima mencionadas) necessita(m) de quem cuida, degenerificar e amparar o trabalho de cuidado é a única maneira de contemplar essa necessidade.


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Gostou desse artigo? Acompanhe o Nota de rodapé para mais discussões.


Confira aqui o post sobre a invisibilização do trabalho de cuidado feito pelas mulheres.


Essa e outras temáticas são melhor exploradas no livro Ser mãe é f*d@!”: mulheres, (não) maternidade e mídias sociais e na tese de doutorado.



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